Notícias literárias


Odisseia

(Homero)



As dúvidas sobre a real existência de Homero parece estar prestes a ser desvendada. O possível autor de uma ou talvez duas das maiores epopeias que o mundo literário já conheceu, Odisseia e Ilíada, tem sido constantemente discutido nas rodas literárias. Não é para menos: a riqueza dessas duas obras e o legado que elas deixaram para a humanidade é indiscutível. 
Desse modo, quando uma descoberta que pode revelar a gênese dos escritos do poeta depois de tantos séculos pode ser equiparado ao próprio nascimento da literatura.
Que Homero seja sempre lido!




Arqueólogos encontram na Grécia a versão escrita mais antiga da Odisseia

Treze versos do poema épico de Homero estão encravados em placa de argila do século 3, encontrado próximo ao Templo de Zeus


Treze versos da Odisseia, de Homero, entalhados em argila. (Foto: Ministério da Cultura da Grécia)


Duas das primeiras obras da literatura ocidental não foram escritas. A composição da Ilíada e Odisseia, ambas atribuídas ao grego Homero, aconteceu de forma oral em algum momento do século 8 a.C. Somente muito tempo depois foram transcritas, com alguns fragmentos encontrados no Egito.

Agora, no entanto, arqueólogos acreditam terem encontrado o mais antigo registro do segundo deles, a Odisséia, conforme divulgou o Ministério da Cultura da Grécia. São 13 versos da Odisséia entalhados em uma placa de argila, provavelmente no século 2 d.C.

O local do achado não poderia ser mais propício. Perto dos restos do Templo de Zeus, o local do nascimento dos Jogos Olímpicos, na cidade de Olímpia. O achado é resultado de três anos de escavações pelos Serviços Arqueológicos Gregos, em cooperação com o Instituto Alemão de Arqueologia.

O extrato, tirado do livro 14, descreve o retorno de Odisseu (ou Ulisses, como era chamado no mito romano) à sua ilha natal de Ítaca. A obra conta a história do herói da Guerra de Tróia a sua cidade. No caminho, “viu cidades e conheceu costumes de muitos homens e que no mar padeceu mil tormentos, quanto lutava pela vida e pelo regresso dos seus companheiros”.

A influência homérica é clara em obras como a Eneida de Virgílio, Os Lusíadas de Camões, ou Ulysses de James Joyce, mas não se limita aos clássicos. A “Jornada do Herói” de Ulisses, conforme teorizado séculos depois pelo antropólogo Joseph Campbell, serviu de base para boa parte das narrativas modernas.







Ignácio de Loyola Brandão

ARTIGO: nos ônibus, o gado amontoado

Os protestos não são contra os 20 centavos. São contra a vida miserável, expressam o saco cheio. É só um rastilho. O bicho ainda vai pegar

17 de junho de 2013 | 2h 01


Fernando Pessoa – 125 anosgnácio de Loyola Brandão
Nem o governador nem o prefeito entenderam é que os protestos não são políticos coisa nenhuma. São contra as condições gerais de vida, de qualidade medíocre de vida e, essencialmente, da indigência dos transportes numa cidade enorme como a nossa. Os protestos não são contra os 20 centavos. São contra a vida miserável, expressam o saco cheio. E este é apenas um rastilho, o bicho ainda vai pegar.
O governador, o prefeito, e todos os governadores, secretários, prefeitos, vereadores, ministros, senadores, deputados, nunca entraram em um ônibus. Nunca viajaram em um, não sabem o que significa a batalha diária da condução. Porque todos que nos governam, todos os vereadores, todos os secretários têm veículos oficiais que os levam a toda parte. Não vou duvidar que sejam blindados. O governador e o prefeito se deslocam com batedores à frente. Ou pelos ares, em helicóptero.
Dia desses, Alzeni, doméstica que trabalha em casa há 16 anos, chegou tarde e nervosíssima. Ela subiu no ônibus no Taboão da Serra às 5 h 30, como faz todos os dias. O ônibus veio, veio, veio e quando chegou na entrada da cidade, mudou de rumo, para espanto geral. Foi sair lá na Praça Panamericana, quando, antes, subia direto a Teodoro Sampaio. Reclamações, protestos. O motorista explicou: "Agora mudou o itinerário". Ou seja, voltas e mais voltas por ruas congestionadas.
Perguntei:
- Mas Alzeni, devem ter avisado antes, preparado, informado, não?
- Que nada, foi de repente. O motorista disse que foi avisado ao chegar de madrugada na garagem.
- Os ônibus têm horário?
- Nunca tiveram. Demoram muito e então um passa lotado. Aí chega o outro, vazio, mas que não para, ninguém sabe por quê. A gente corre atrás, ele para, cheio de má vontade, berrando e explicando: "Tinha lá uns elementos suspeitos, preferimos não parar."
- Os suspeitos deviam ser vocês (risos).
- Todo pobre e negro é suspeito (raiva). Não sabe como a gente é tratado. Estamos subindo no ônibus e o motorista arranca. Quando chega no meu ponto ali no Taboão, já está cheio. Nesses anos todos eu me sentei umas cinco vezes. Os que estão em pé vão sendo espremidos. No calor as janelas não abrem, fica um suadouro danado. Todo pobre sabe o que é sauna...
- Sem nunca ter entrado numa.
- Assim, você tem um cara te apertando por trás, uma pessoa com uma mochila te apertando pela frente, um malandro se aproveitando e passando a mão. Dia desses, uma moça desmaiou. Falta de ar. Janelas lacradas. Ou então são janelas quebradas e entra vento, chuva. Os motoristas correm quando a rua está livre. De repente, brecam. Todo mundo é socado para a frente. Só não caem porque não tem espaço para cair, uns se agarram nos outros.
Ela sai cinco e meia da manhã, porque se sair às seis ou seis e meia, vai pegar duas horas de trânsito, quando não mais. Claro que vai embora no começo da tarde, é o justo, o acordo.
- E quando dá a louca no motorista e ele não para no ponto? Ouve a campainha, finge que não é como ele. Todo mundo xinga, grita. Sofrem tanto quanto a gente. Isso tudo é desumano, seu Ignácio. Parece gado, a gente é tratado como gado.
Como caminho muito, paro às vezes diante de um ponto, na Cardeal ou na Rebouças, ou no centro. Aquela gente se aperta, se empurra, se espreme. Faço analogia com aqueles equipamentos que reduzem carros a um quadradinho de ferro, em terrenos de sucata. Esse é o povo espremidos no ônibus, meus caros governador e prefeito. Vocês têm cultura, conheceram os trens que levavam judeus para os campos, amontoados em vagões sem ar, sem luz. São nossos ônibus. O metrô? Está igual em numero, gênero e grau.

* IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO É ESCRITOR






Fernando Pessoa (1888-1935) é considerado um dos maiores poetas. Seu trabalho abrange um conjunto muito amplo de textos, publicados sob o seu próprio nome (a parte de sua obra que é tradicionalmente chamada de “ortônima”) ou sob o nome dos diferentes escritores que ele criou (a chamada obra “heterônima”). Segundo Pessoa, a obra “heterônima é do autor fora de sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu”. A criação dos heterônimos é, portanto, um processo artístico consciente, que não deve ser encarado como algo “estranho”. Os principais heterônimos criados por ele foram Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.


13/06/2013- Fernando Pessoa faria 125 anos.





MIA COUTO, NO DISCURSO DA ENTREGA DO PRÉMIO CAMÕES


"O próprio Camões, que teve uma vida infeliz, desgraçada, morreu pobre, pensando que sua obra era desvalorizada. Portanto não muda nada, quer dizer, eu fico muito feliz, isso tenho que confessar, é uma grande felicidade, mas não altera em relação a grandes coisas ou à razão porque eu escrevo, porque sou feliz, não muda nada. Cada escritor tem um universo próprio que não pode ser comparado com outro. E longe de mim comparar-me com Camões, que é uma figura lendária, uma figura que marca quase toda a fundação de toda a literatura em língua portuguesa."











Escritor Mia Couto vence prêmio Camões em 2013

O biólogo e escritor moçambicano Mia Couto – autor de livros como "Terra sonâmbula" e "O último voo do flamingo" – é o ganhador do Prêmio Camões 2013, um dos principais da literatura em língua portuguesa. Ele vai receber 100 mil euros. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (27) pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), instituição ligada ao Ministério da Cultura. De acordo com a assessoria de imprensa da FBN, a escolha do júri foi por unanimidade.
A nota lembra que o romance "Terra sonâmbula" foi considerado "um dos dez melhores livros africanos no século XX" e que o autor é "comparado a Gabriel Garcia Márquez, Guimarães Rosa e Jorge Amado".
Filho de portugueses, António Emílio Leite Couto nasceu em 1955, em Beira, Moçambique. Em entrevista ao G1 pouco antes de sua partidição na edição 2012 da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), explicou que tinha 2 anos de idade quando pediu aos pais para ser chamado de Mia – "parecia com o miado dos meus gatos".
Já adulto, chegou a cursar medicina, tendo abandonado a graduação para militar pela libertação do país no início dos anos 1970. No período seguinte, Couto atuou como jornalista. Autor de volumes de poesia, romances, contos e romances, ele é o segundo moçambicano a levar o Camões. Em 1991, seu conterrâneo José Craveirinha faturou a honraria.
A distinção criada pelos governos do Brasil e Portugal é entregue desde 1989. Desde então, os autores nacionais contemplados foram Dalton Trevisan (2012), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005), Rubem Fonseca (2003), Autran Dourado (2000), António Cândido de Mello e Sousa (1998), Jorge Amado (1995), Rachel de Queiroz (1993) e João Cabral de Melo Neto (1990).
Júri
De acordo com a FBN, a escolha do ganhador do Prêmio Camões 2013 foi feita no Palácio Capanema, no Rio. O júri era formado por por Clara Crabbé Rocha e José Carlos Vasconcelos (de Portugal); Antônio Alcir Pécora e Alberto da Costa e Silva (do Brasil); João Paulo Borges Coelho (de Moçambique); e José Eduardo Agualusa (de Angola).
A nota reproduz uma observação do embaixador Alberto da Costa e Silva: "[Mia Couto] É um autor de grande aceitação crítica no Brasil, em Portugal e nos países africanos. Sua literatura é cheia de imaginação e de estima pelas diferenças culturais".
Já o autor angolano José Eduardo Agualusa teria afirmado que os livros do colega têm "grande criatividade lingüística inspirada no falar das populações mais pobres de Moçambique e ultrapassou fronteiras, inclusive influenciando escritores mais jovens, traduzido para quase 30 línguas".






“Um mal terrível”: Edgar Allan Poe Escreve Sobre a Doença e a Morte de sua Esposa.

Até onde sei, Poe não foi poligâmico. Ao contrário. Casou-se mais de uma vez, mas amou, ao que nos parece, com muita intensidade as suas companheiras. E quão interessante é fomentar a ideia de que Poe era, de fato, um escritor de tragédias – não no sentido “greco-latino” da palavra, mas no sentido mais contemporâneo. Poe parece um autor a respirar de suas próprias agruras espirituais e sentimentais, e somos levados a pensar que ele jamais teria escrito um parágrafo sequer sem ter sofrido o que sofreu. Nem todos os escritores são assim, movidos a lágrimas, mas alguns dos melhores têm as histórias mais conturbadas da Literatura – nem comento Horacio Quiroga.
A beleza literária de sua carta é comparável com a de seus trabalhos ficcionais, o que me convence de que Poe via, na própria vida, a mais realística das ficções. Para um escritor como Poe, até onde a realidade vai? Onde ela para a fim de dar espaço à ficção? Há uma fronteira bem definida?
Abaixo, portanto, traduzi não só a carta de Edgar, mas como a matéria de Rebecca Onion, que fala com bastante propriedade acerca de todo a questão. Confira:
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Em uma passagem confinada profundamente nessa longa carta cheia de fofocas e conversa fiada, Edgar Allan Poe reconta a verdadeira história da morte de sua esposa Virginia, em 1847, quando a moça foi vitimada pela tuberculose, e descreve sua própria reação desesperada.

Virginia
A ex-curadora do Harry Ransom Center, Molly Schwartzburg, que escreveu sobre essa carta de 1848 para o blog do arquivo, diz que o correspondente de Poe, George Washington Eveleth, era um fã que escreveu pela primeira vez a Poe em 1845. Ao longo dos anos, o autor trocou várias cartas com Eveleth, que perguntava sobre seus planos editoriais, suas escolhas literárias e suas rivalidades com outros escritores.
Em 1846, Poe escreveu uma carta para o jornal Spirit of the Times, da Filadélfia, respondendo às acusações de plágio – e de outros pecadilhos literários – de outro escritor. Em sua defesa, Poe menciona que ele vinha sofrendo dos efeitos do que chamou de um “mal terrível”. Na carta que relembrava essa resposta, Eveleth perguntou a Poe de que se tratava aquele mal.
A resposta de Poe a essa pergunta pessoal veio na segunda página dessa carta. (O escritor numerou suas respostas às perguntas de Eveleth, e a passagem sobre Virginia começa no item 10). Contando a história sobre a doença de Virginia, descoberta em 1842 – quando, de repente, ela começou a sangrar enquanto cantava ao piano –, Poe descreveu como foi afetado pelos altos e baixos no estado de saúde dela. “Constitucionalmente sensível – nervoso, a uma medida incomum”, ele escreveu, ele ficou “louco, com longos intervalos de uma horrível sanidade”.
Poe era famoso por seus excessos no álcool durante a década de 1840, e seus “inimigos” (como ele os chama) pensavam que seu comportamento irregular se devia à bebida. Aqui, ele escrete que o estresse e a dor da doença de sua mulher eram a causa tanto de seu alcoolismo quanto de sua “insanidade”. Ao final da passagem, Poe diz – em uma reviravolta surpreendente de ler – que a morte de sua mulher era a “cura permanente” para sua loucura.
Ao passo em que sua frase tenha sido utilizada para criar um efeito literário, em 1849, a vida de Poe realmente pareceu melhorar. Ele tinha um novo projeto editorial a caminho e estava noivo de outra mulher quando morreu sob circunstâncias misteriosas em um hospital de Baltimore.
 
Uma carta de Edgar Allan Poe para George Washington Eveleth, datada de 04 de janeiro de 1848. Cortesia de Harry Ransom Center.
Transcrição:
10 – Você diz – “Pode me dizer de que se tratava aquele mal terrível que causou as irregularidades tão profundamente lamentadas?” Sim, eu posso dizer. Esse “mal” foi o pior que poderia ter recaído sobre um homem. Seis anos atrás, minha esposa, que eu amei como nenhum homem jamais amou antes, viu seu sangue lhe sair enquanto cantava. Sua vida se tornou um desespero. Despedi-me dela e me submeti a todas as agonias de sua morte. Ela se recuperou parcialmente e eu voltei a alimentar esperanças. Ao final de um ano, aconteceu novamente – foi quase a mesma cena. Novamente, repetiu-se tudo depois de um ano. E de novo – de novo – e de novo e mais uma vez, a intervalos irregulares. A cada vez, eu sentia todas as suas agonias – e a cada ascensão de sua condição, eu a amava com mais devoção e me agarrava à sua vida com uma obstinação desesperada. Mas sou constitucionalmente sensível – nervoso, a uma medida incomum. Tornei-me louco, com loucos intervalos de uma horrível sanidade. Durante esses relances de absoluta inconsciência, eu bebia, Deus sabe quanto ou com qual frequência. De fato, meus inimigos culpavam a bebida pela minha insanidade, e não o contrário. Na verdade, quase abandonei todas as esperanças de uma cura permanente quando a encontrei na morte de minha esposa. Eu posso e aceito isso como uma verdade – era uma terrível e interminável oscilação entre esperança e desespero que eu jamais poderia suportar sem a total perda da razão. Na morte daquela que foi a minha vida, eu sou presenteado com mais uma objeção – oh Deus! Quão melancólica a existência!
Versão Original (sem o comentário, é claro):
 Revisado por: Pedro Dalboni

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